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A Inadimplência e o Desemprego entre os Jovens Brasileiros

  • Foto do escritor: LIEQ
    LIEQ
  • 25 de jan. de 2021
  • 6 min de leitura


O presente artigo propõe uma análise e discussão dos índices de inadimplência dos jovens brasileiros, com idade entre 18 e 24 anos, de 2012 até o presente momento. Foi feito o estudo do comportamento desses números ao longo da série histórica e apresentada a relação desse índice com as taxas de desemprego entre essa parcela da população.

O comportamento financeiro entre 18 e 24 anos

Muitos jovens brasileiros estabelecem uma relação com seu dinheiro facilmente ilustrada como a corrida dos ratos, onde constrói-se uma vida em busca de dinheiro para suprir seus gastos e necessidades. Ao alcançarem uma fonte de renda ou passarem a ganhar mais, ao invés de acumularem riquezas, passam a aumentar os seus gastos, retornando ao início do ciclo, no qual não possuíam dinheiro suficiente, e contraindo dívidas que não podem ser totalmente pagas. A alegoria criada por Robert Kiyosaki em seu livro Pai Rico, Pai Pobre compara esse tipo de exercício financeiro com esforços inúteis de um rato de laboratório tentando escapar de sua gaiola correndo em uma roda — de nada adianta ao indivíduo, não há ganho de liberdade financeira efetiva.

Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) no ano de 2019 mostra que, dos jovens com idades entre 18 e 24 anos, 47% deles não realizam o controle de suas finanças pessoais. Dentre as principais justificativas, temos o fato de não saber como fazê-lo (19%), sentir preguiça (18%), não ter hábito ou disciplina (18%), ou não ter rendimentos (16%).

A pesquisa levantou ainda que 75%, ou seja, três em cada quatro desses jovens, não se preparam para a aposentadoria. Dentre os que se preocupam com a futura aposentadoria, 21% deles têm o INSS pago pela empresa, 26% fazem aplicação em poupança, 21% recorrem a Previdência Privada, 21% planejam a abertura do próprio negócio como fonte de renda e 19% fazem o pagamento do INSS de forma autônoma.

A perspectiva de falta de controle financeiro se mostra ainda mais impositiva entre os jovens que precisam ajudar nas despesas de casa. Outra pesquisa do SPC Brasil (2017), mostra que oito em cada dez jovens brasileiros que possuem algum provento contribuem financeiramente para o sustento da casa (82%). Entre os jovens das classes C, D e E, o número toma proporções praticamente absolutas.

O que os índices nos mostram?

Segundo estudo de 2018 do SPC Brasil, o número de jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos negativados era de 4,81 milhões de pessoas, o que corresponde a 20,14% da população brasileira dessa faixa etária. Desde 2013, a participação dos jovens nos números totais de inadimplência veio recuando. Enquanto em janeiro de 2013 correspondiam a 12,80% do número total de devedores, em janeiro de 2018 esse número já havia caído para 6,12%. Nas publicações mais recentes, de janeiro de 2020 pelo SPC, o número divulgado era equivalente a 3,82% do total de inadimplentes do país.

Em primeira vista, ao analisar essa mudança expressiva dos números, pode-se ser levado a acreditar que o índice mostra maiores cuidados dos jovens com suas finanças pessoais ou certo desenvolvimento da população mais jovem em sua relação com o dinheiro. Porém, a realidade é bem distinta; na verdade, o que ocorreu foi um grande evento de afastamento dessa faixa etária nos índices de ocupação nacional. O jovem de 18 a 24 anos perdeu enorme espaço no mercado de trabalho e, assim, sem acesso a linhas de crédito, é impossibilitado de contrair dívidas, o que reflete nos índices de inadimplência. Isso é refletido pelo Gráfico 1 que reúne os dados da taxa de desocupação(*) na faixa etária de 18 a 24 anos e o índice de inadimplência do 1º trimestre de 2012 ao 1º trimestre de 2020.

Gráfico 1 - Taxa de inadimplência comparativa anual e taxa de desocupação, ambas em pontos percentuais, dos jovens entre 18 e 24 anos do 1º trimestre de 2012 ao 1º trimestre de 2020.





Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e SPC Brasil. Acesso em 08 dez. 2020.

(*) Segundo o IBGE, a taxa de desocupação é calculada com a contabilização apenas daqueles brasileiros “com idade para trabalhar e que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho”. Assim, uma dona de casa que não busca emprego ou um universitário dedicado aos estudos são considerados cidadãos fora da força de trabalho e não são incluídos nesses números.

Nota-se uma relação inversa entre os números dos dois índices. No momento em que a desocupação entre os jovens começa a crescer, é observada a queda significativa do índice de inadimplência. Em matéria publicada pelo SPC Brasil em 2018, a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti, admite que a retração do número de jovens negativados se deve à queda dos níveis de ocupação dessa faixa etária. Segundo ela, "fora do mercado de trabalho pelas mais diversas razões, muitos desses brasileiros acabam ficando também fora do mercado de crédito, reduzindo o contingente de potenciais inadimplentes”.

Essa relação pode ser observada também nos números regionais do país, nessa mesma matéria pelo SPC, de janeiro de 2018, foi divulgada a proporção dos jovens negativados em relação ao número total de devedores de cada região. As regiões Centro-Oeste e Sul apresentaram os maiores números, 7,8% e 7,6% respectivamente. Em seguida, a região Norte com 7,4%, e, por fim, as regiões Sudeste e Nordeste com 5,7% e 5,0% de seus devedores sendo jovens de 18 a 24 anos. Ao se comparar os números da taxa de desocupação dessa faixa etária no mesmo período do ano de 2018 por região (Gráfico 2), nota-se a clara relação entre os valores, sendo que, nas regiões de maiores números de desocupação dos jovens, houve as menores inadimplências.

Gráfico 2 - Taxa de desocupação e inadimplência dos jovens de 18 a 24 anos, por região, no 1º trimestre de 2018.




Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE.

Dados retirados do Relatório de Cidadania Financeira de 2018 do Banco Central do Brasil (BC) reforçam o afastamento dos jovens nesse período das atividades bancárias e financeiras. O BC aponta que “apesar do aumento da posse de contas pela população como um todo, houve redução em alguns grupos específicos. Entre os jovens adultos (entre 15 e 24 anos), essa diminuição foi de 6 p.p., passando de 52,6% em 2014 para 46,7% em 2017”. Vale ressaltar que esse é o relatório mais recente produzido pelo BC e que trata da temática em questão.

Além disso, dos poucos jovens ativos financeiramente, o número de jovens preocupados com seu controle financeiro é ainda menor. A perspectiva de endividamento dos jovens não mudou. Em trecho retirado do mesmo relatório publicado pelo BC, lê-se que “a dificuldade de gerir adequadamente o uso do cartão de crédito não é resultado apenas da falta de recursos. [...] pode-se notar uma diferença entre as idades, sendo o recurso do pagamento mínimo usado mais comumente entre os mais jovens.”, mostrando que essa faixa etária cai, com dada frequência, nas dívidas do juros rotativo.

Nesse sentido, os efeitos do cerceamento financeiro dessa faixa etária causam prejuízos à saúde financeira das famílias e do país, com impactos micro e macroeconômicos. Os efeitos a longo prazo desse isolamento financeiro dos mais jovens são diversos, como aumento dos riscos de pobreza, diminuição da qualificação profissional geral, aumento da exclusão social, maiores parcelas populacionais em vulnerabilidade econômica, aumento dos custos do Estado pela necessidade de mais recursos para prover serviços públicos e serviços sociais, menores arrecadações e resistência da recuperação da economia nacional.

Resultados durante a pandemia de COVID-19

Em decorrência da pandemia de COVID-19, lança-se agora grande incerteza sobre o comportamento dos índices de inadimplência para este e os próximos anos, incluindo a faixa etária dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos. Segundo o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior: “A pandemia do novo coronavírus e as medidas de contenção do contágio via isolamento social terão forte impacto na demanda interna. Ainda não é clara a extensão desse impacto sobre a economia brasileira, mas, sem dúvida, ele vem na direção negativa. É provável que a recuperação econômica seja interrompida e que vejamos aumento de desemprego, queda na renda e consequente piora nos números de inadimplência”.

As perspectivas para o futuro próximo apontam para um grande aumento na pressão financeira das famílias e empresas de modo geral, no país e no mundo. Mais do que nunca, é necessária inteligência financeira para lidar com os resultados dessa crise de saúde mundial que trará grandes impactos para a população brasileira de todas as faixas etárias. Como forma de mitigar os danos, o Governo Federal criou o chamado Auxílio Emergencial. Aprovado em maio de 2020, o auxílio emergencial destinado à camada mais vulnerável da sociedade foi estendido até dezembro de 2020 e trouxe um alívio para diversas famílias neste momento de pandemia. Neste link você encontra mais detalhes sobre o Auxílio Emergêncial e os impactos na economia.


Artigo por: Thais Lucena

REFERÊNCIAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Cidadania Financeira de 2018. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 8 dez. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho.html>. Acesso em: 8 dez. 2020.

SPC BRASIL. 82% dos jovens brasileiros contribuem para o sustento da casa, indica pesquisa do SPC Brasil. Disponível em: <https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/pesquisa/2517>. Acesso em: 8 dez. 2020.

___. Número de jovens inadimplentes atinge 4,81 milhões de negativados entre 18 e 24 anos, mostra SPC Brasil. Disponível em: <https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas>. Acesso em: 8 dez. 2020.

___. 47% dos jovens da Geração Z não realizam o controle das finanças, aponta pesquisa CNDL/ SPC Brasil. Disponível em: <https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/pesquisa/6271>. Acesso em: 8 dez. 2020.

 
 
 

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