Índice do medo (VIX)
- LIEQ
- 5 de mai. de 2020
- 6 min de leitura

Recentemente a LIEQ realizou uma pesquisa para saber o que o nosso público gostaria de saber mais. Um dos pedidos foi para realizarmos um artigo sobre o índice VIX, popularmente conhecido como índice do medo. Sendo assim, ao longo do texto, explicaremos o que é, para que serve e como funciona este índice.
A priori, o índice VIX é um índice de volatilidade criado na década de 1990 pela CBOE (Chicago Board Options Exchange) que mede os ativos na bolsa dos EUA e, consequentemente, o seu nível de risco. Portanto, este índice trata de um fator ligado ao risco e tem peso grandioso na tomada de decisão. No VIX é possível medir as expectativas do mercado para os próximos trinta dias sobre as ações que compõem o Standard & Poor’s 500 (S&P), índice que concentra as quinhentas empresas mais relevantes dos Estados Unidos. De forma simples, o índice VIX é mais um “termômetro” do mercado que fornece pistas sobre as sensibilidades que modificam os preços dos ativos e, desta forma, mensurar seus riscos. Esse é um dos grandes diferenciais do VIX:ele mede a volatilidade que os participantes do mercado estão esperando, sendo diferente de “volatilidade histórica”, que é apenas um registro com dados do passado, servindo apenas para consulta.
No entanto, o que isso significa na prática? Bem, o termo volatilidade no mercado financeiro está sempre ligado a variação de um determinado ativo. Quanto maior for a volatilidade de uma ação, isso significa que seu preço está mais sensível, podendo subir ou descer drasticamente. Porém, se ocorrer o contrário e o ativo apresentar baixa volatilidade, significa que sua precificação é mais resistente aos eventos econômicos em geral. Dessa forma, logicamente, a alta volatilidade de um ativo é diretamente ligada com o risco, pois há menor controle sobre o que irá acontecer. Contudo, ressaltamos novamente que o índice apenas mede a volatilidade, ou seja, flutuação dos preços, não levando em conta os tipos das ações nem as empresas. O índice é só mais um método que ajuda o acionista a tomar decisões, nada além disso. Ademais, este risco pode não existir, ser exagerado ou simplesmente subestimado. Com isso, a reflexão no preço dos ativos pode ser largamente incondizente com a realidade, criando um cenário de oportunidade para os atentos.
Além disso, para entender este índice, é importante lembrar que nunca é por acaso que o VIX aumenta. Normalmente, a volatilidade dos mercados ocorre devido a choques, como crises financeiras, desastres naturais, conflitos entre países e epidemias. Estes abalos podem influenciar fortemente ou não o mercado, como estamos presenciando com o Coronavírus. A pandemia fez o índice de volatilidade americano atingir sua maior alta desde 2018. Sendo assim, nesses momentos de alta do VIX, o movimento do mercado é pela busca de investimentos mais seguros visando proteger as carteiras – estratégia conhecida como “Flight to Safety”.
E, apesar deste índice somente replicar o comportamento das ações americanas, o VIX influência todo o globo. Sendo assim, pode-se dizer que o risco dos ativos no mundo aumentou, já que Wall Street exerce uma forte influência sobre outros investimentos. Ademais, costuma-se dizer que existe uma relação entre o comportamento das ações e o VIX, pois quando a bolsa está em alta, o índice do medo cai. Isto ocorre porque o mercado fica mais disposto a tomar riscos e suportam terem mais possíveis perdas, algo completamente pessoal e sensorial. De forma análoga, os mercados em queda fazem o VIX subir. Entretanto, um investidor experiente sabe que a bolsa possui seus picos de bull-market, visto que o mercado é feito de ciclos – variando em duração e amplitude - logo, sabe-se que a bolsa passará por um bear-market e não será por causa deste movimento - e muito menos por um índice - que o investidor experiente venderá suas ações desesperadamente. A seguir relatamos os principais picos que o WIX teve no século XXI.
- Ataque às Torres Gêmeas (2001). O índice atingiu 50 pontos em dólares, ou seja, a expectativa do mercado era de que houvesse um crescimento ou uma queda anual de 50%. Isso significa que a volatilidade das opções mensais e semanais do S&P500 foi de 50%.
- Falência do banco Lehman Brothers (2008), prenunciando uma crise econômica mundial. O índice atingiu 90 pontos em dólares.
- Crise da dívida grega (2010), quando o país registrou déficit orçamental de 13,6% do PIB e enfrentou dívidas de mais de 300 bilhões de euros. O índice atingiu quase 50 pontos em dólares.
- Guerra comercial EUA x China (2018), quando os Estados Unidos impuseram tarifas de 25% sobre a importação de aço e 10% sobre a de alumínio e, consequentemente, afetando os Chineses (seu maior parceiro comercial). Assim, começou-se uma guerrilha de taxações, impostos e tarifas um sobre o outro. O índice VIX atingiu quase 40 pontos em dólares.

Em 16 de março deste ano, dia no qual o presidente americano Donald Trump disse que a economia do país poderia estar a caminho de uma recessão o índice VIX chegou a 82 pontos por conta do Coronavírus. Porém, antes da pandemia, os resultados gráficos do índice se mantinham sem variações bruscas (é possível observar este fenômeno no gráfico a seguir). Pode-se dizer, então, que a crise atual é um evento do tipo cisne negro – um evento raro, imprevisível e de alto impacto sobre a sociedade e a economia - que inutiliza a maioria dos prognósticos para a economia e para as empresas pois não há possibilidade de previsões assertivas sobre o futuro financeiro, sendo necessário viver um dia de cada vez e observar como o mercado está funcionando para conseguir ter previsões satisfatórias. Estes eventos modificam os rumos e transformam completamente qualquer cenário, tornando impossível de se fazer qualquer prognóstico no curto prazo. Consequentemente, isso aumenta a incerteza e deixa os investidores no escuro.

Como sabemos, os ciclos de alta e baixa na bolsa são dados como certos. Desta forma, muitos investidores consideram que o VIX mede não só a ansiedade do mercado, mas também a ganância, pois o índice mostra também o quanto o mercado está disposto a lucrar nos breves momentos de turbulência da bolsa. Por conta disso, o índice passou a ser usado como uma ferramenta para especuladores e traders que compram e vendem ações no curto prazo.
No Brasil, o índice VIX não existe porque o mercado de ações é pequeno (há cerca de somente 400 empresas no mercado brasileiro, sendo que este índice é calculado em cima das 500 empresas mais rentáveis da bolsa americana), assim como o de opções. Contudo, é possível ter uma base da volatilidade do mercado nacional pelo índice estadunidense visto que a bolsa brasileira é altamente influenciada pelo S&P 500, já que maior parte dos investimentos feitos no Brasil vem do exterior. Além disso, os Estados Unidos possuem a maior economia do mundo; se segue que se houver aumento significativo do VIX lá, como foi dito anteriormente, se esperará um aumento na volatilidade nos outros países. Igualmente, existe um “indicador do medo” no Brasil que é intitulado de VXEWZ (Brasil ETF Volatility Index) que é desenvolvida por uma ETF (Exchange Traded Fund) chamada EWZ. Para o investidor brasileiro, caso ele esteja interessado na volatilidade do mercado, é recomendável que ele use os dois índices em conjunto para tomar decisões no mercado nacional.
Você pode estar se perguntando como se calcula o VIX. De forma simplificada, ele é calculado considerando a média ponderada do preço das opções de compra e venda que estão tendo prejuízo no dia do vencimento. O índice é calculado a cada 15 segundos, utilizando opções que estão em um intervalo entre 23 e 37 dias de vencimento.
No mês de abril, o índice VIX estava em torno de 41 pontos – indicando que há uma expectativa de que o mercado, até abril do ano que vem, suba ou desça 41% do valor atual. Ou seja, o medo dos investidores diminuiu com relação a pandemia, porém o valor ainda é alto, demonstrando grande incerteza dos investidores com relação ao futuro dos ativos. É possível acompanhar o índice em sites sobre o mercado financeiro.
Em resumo, o VIX é um índice que mede a volatilidade da bolsa norte-americana, que se diferencia por estimar o sentimento futuro do mercado - e que deve ser utilizado com cautela para que suas decisões nos investimentos não sigam o efeito manada da bolsa, que inevitalmente uma hora vai levar ao desastre.
Esperamos que esse artigo tenha sido útil para você. Fique ligado no Blog da Liga de Investimentos da Escola de Química para receber mais informações sobre o mercado financeiro. Quaisquer dúvidas ou comentários estamos à disposição. Até breve!
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