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Investimentos no Exterior

  • Foto do escritor: LIEQ
    LIEQ
  • 23 de nov. de 2020
  • 9 min de leitura

Olá leitor(a), tudo bem com você?


Neste artigo irei abordar sobre os motivos que impulsionam alguns investidores a investir no exterior, e também os pontos negativos do investimento. Além disso, irei abordar de forma sucinta sobre o atual cenário macroeconômico que estamos presenciando. Por fim, irei fazer minhas conclusões sobre os tópicos que foram debatidos abaixo e oferecer alguns adendos sobre o assunto. Boa leitura!


Antes de adentrarmos na discussão, pode nos surgir a seguinte dúvida: “Por que investir no exterior se eu posso investir na bolsa brasileira?”. Ora, para tal, devemos ter noção do porquê investir no exterior.


Política de portfólio


Sabemos que o risco é inerente ao investimento. Portanto, todo investidor que se preze possui uma carteira diversificada, seja em renda fixa, seja em renda variável. Sob o viés desta última, sabemos que há uma enorme diversificação de ativos, como ações, fundos de investimentos, derivativos. Porém, mesmo contando com uma ampla variedade de opções de investimentos, percebe-se um ponto em comum entre esses itens: todos são negociados com a mesma moeda, no caso, o real. Esse fato apresenta dois lados. Dissertando sobre, quando a nossa bolsa de valores, o Ibovespa, passa por momentos de otimismo, isso denota que os ativos nela negociados estão valorizando-se, ou seja, o preço está subindo. Por outro lado, caso o índice esteja em baixa, os ativos desvalorizam-se, podendo causar perdas significativas a certos investidores.


Premissas do investimento


Dessa maneira, com o intuito de amenizar e/ou contornar as perdas nos momentos de depressão da bolsa, diversos investidores optam por diversificar seu capital em ativos negociados em outras moedas. Esse movimento acarreta em uma carteira que não é 100% dependente de uma única moeda, criando, assim, um hedge, que é o nome dado às medidas protetivas no mundo dos investimentos. Tendo isso em mente, utilizando-se do senso comum, o país que mais atrai os investidores são os Estados Unidos (EUA). Consequentemente, por conta disso, o artigo dará enfoque apenas para a economia e moeda americana.


O(A) leitor(a) pode estar se perguntando agora: “Por que os EUA atraem tanto os investidores?”. A resposta para tal é que, hoje, além do dólar ser considerado uma moeda extremamente forte e estável em comparativo com as demais, historicamente falando, desde o advento da segunda revolução industrial no final do século XIX, o país é caracterizado por ser referência no tocante ao desenvolvimento econômico e tecnológico. Por conta disso, os EUA é considerado a maior e mais estável economia do mundo, o que contribui para a notoriedade de ser a “terra das oportunidades”. Por fim, para título de curiosidade, muitos acreditam que a China trilha o caminho de tomar esse título dos EUA futuramente. Caso se interesse pelo assunto, recomendo o artigo da LIEQ sobre a atual guerra comercial entre China e EUA. O link para acessar o artigo está aqui.


Retomando o assunto, sob outra perspectiva, além da possibilidade do hedge, muitos investidores optam por investir nos EUA por conta das oportunidades e vantagens lá presentes, como a questão do imposto de renda (IR), diversidades de ativos, lotes de ações, sobre as quais irei falar em seguida.


Vantagens e oportunidades


I) Proteção natural do dólar


Utilizando-se da premissa do hedge, quando crises políticas ou financeiras atingem países emergentes, grupo do qual o Brasil faz parte, há uma tendência de saída do capital estrangeiro dessas nações. Isso é explicado pelo alto grau de incerteza da segurança econômica que esse grupo de países apresenta. Ok, o dinheiro sai dos emergentes, mas para onde ele vai? A resposta é simples: o capital é destinado aos países que estão tendo mais estabilidade no âmbito econômico, que, em sua maioria, são os países desenvolvidos, como os países europeus, alguns do continente asiático e, principalmente, os EUA. Consequentemente, esse movimento de migração de capital acarreta na valorização das moedas desses países com sistemas mais robustos e seguros. Em suma, esse fenômeno chama-se “flight to quality” (voo para qualidade). A Figura 1 denota empiricamente tal fenômeno:


Figura 1 - Comparativo entre o Ibovespa (azul) e a cotação do dólar (verde) entre o início de 2009 e o início de 2014



Fonte: Br Investing. Acesso em 24 out. 2020.


Analisando o comportamento do Ibovespa e a cotação do dólar, fica nítida a simetria entre o Ibovespa e o preço do dólar. Quando o índice sofre uma queda, há uma ascensão do dólar e vice-versa. Dessa maneira, uma das vantagens no aumento da cotação dólar é caso o investidor já tenha parte de seu câmbio dolarizado, bastando apenas o indivíduo fazer o retorno cambial e obter o lucro em cima da conversão.


II) Imposto de renda sobre o ganho de capital


Diferentemente do IR aplicado no Brasil, o qual possui uma isenção total de tributação do patrimônio de até R$20.000,00 sobre o ganho de capital em vendas mensais, no mercado americano, essa isenção é de R$35.000,00 lembrando que a sua declaração também é feita aqui. Essa regra aplica-se às ações, ETFs e aos real estate investment trusts (REITs), que seriam os fundos imobiliários americanos. Em outras palavras, o investidor pode fazer transações mensais de maiores volumes sem a necessidade de pagar o IR.


III) Diversidade de ativos


No mercado americano há bem mais opções de ativos dentro da renda variável para se investir em comparação com o Brasil. Expondo alguns números, nos EUA existem mais de 3000 empresas listadas e mais de 2000 ETFs. Em contrapartida, o nosso mercado possui menos de 500 ações e 20 ETFs disponíveis para compra, expondo, assim, um número bem mais elevado de ativos para comercialização nos EUA.


IV) Lotes de ações


Para quem já utiliza o home broker, sabe que só é possível comprar no Ibovespa ações em lotes de 100 ou em lotes unitários, que são comercializados no mercado fracionário. A principal diferença no mercado americano é que nele não existe o mercado fracionário, ou seja, para o investidor que queira comprar lotes unitários, não é necessário fazer a transação no mercado fracionário, pois ele não existe. Dessa maneira, podemos notar um aumento da liquidez dos ativos nos EUA, visto que não há essa separação de mercados.


Além disso, uma outra diferença presente na bolsa americana é a possibilidade de se comprar a fração de uma ação “o pedaço do papel”. Por exemplo, caso o indivíduo não possua dinheiro para comprar uma ação por inteiro, a depender da corretora, ele pode comprar apenas ⅓ do papel. Portanto, qualquer quantia que for, o investidor poderá inseri-la na bolsa, o que acarreta, novamente, em mais liquidez nas transações.


Desvantagens e empecilhos


I) Imposto de renda


Sim, ironicamente o IR está presente na seção de vantagens e desvantagens, sendo, agora, o enfoque em seus pontos negativos.


  • Dividendos são tributados na fonte


Diferentemente do Brasil onde não ocorre a tarifação sobre os dividendos, nos EUA ocorre o contrário. A tributação retida na fonte é de 30% sobre o valor dos dividendos. Tendo isso em mente, as empresas, em sua maioria, optam por investir o capital que seria designado à distribuição de dividendos para a compra de suas próprias ações, ou seja, as recompram. Essa prática é chamada de “buyback”, sendo o intuito “reduzir as fatias do bolo” disponíveis para compra visando a valorização dos “pedaços” já pertencentes aos acionistas. Para aqueles que almejam viver de dividendos das empresas, essa questão pode ser uma problemática.


  • Prejuízos não são compensáveis


Nos EUA, os prejuízos que um indivíduo possa ter por conta da venda de seus ativos não podem ser compensados nos meses subsequentes como ocorre no Brasil para o cálculo do IR. Dessa forma, caso tenha prejuízo em um determinado mês, não será possível compensar esse prejuízo nos meses seguintes ao que tiver lucro.

  • Dificuldades para a declaração


Sabemos que calcular e declarar o IR de alienações nacionais não é uma das coisas que mais gostamos. Adicionando complexidade a isso, o grau de dificuldade está diretamente atrelado em como a corretora internacional fornecerá os dados das transações nos relatórios mensais. A depender da disposição da instituição, o investidor, além de fazer os cálculos do IR, terá que fazer a conversão para o real de acordo com a cotação do dólar no dia em que ocorreu a alienação.


II) Idioma estrangeiro


Associado diretamente à questão da declaração do IR, caso o investidor tenha pouco conhecimento em inglês ou qualquer outra língua que seja, essa tarefa será bem mais complexa que o comum caso a corretora não forneça uma interface em português.


III) Custos de remessa


Reforçando a ideia, para começar a operar no exterior é necessário criar uma conta em uma corretora estrangeira e, com isso, fazer a conversão de uma determinada quantia em reais para o dólar. Nessa transação, incidem diversas taxas sobre o valor convertido, como o spread cambial da corretora, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e algumas outras taxas de acordo com a instituição utilizada. Dessa forma, a depender da quantia transferida, uma porcentagem considerável do capital será utilizada apenas para o simples ato da conversão cambial, o que não é muito interessante para quem não opera com um alto volume de capital.


IV) Cotação do dólar


Em um comparativo histórico, a cotação do dólar hoje não é uma das informações mais agradáveis para quem quer entrar no mercado americano. O conceito de “caro” ou “barato” é algo relativo, pois nós sempre precisamos ter um referencial de comparação: “Caro ou barato em relação ao que? Em relação a qual período?”. Isso se deve ao atual cenário macroeconômico no qual estamos inseridos, ponto que será abordado a seguir.


O cenário macroeconômico atual


Desde o advento da pandemia da COVID-19 no início do ano, o cenário econômico global sofreu quedas drásticas de uma forma extremamente abrupta. Com isso, o medo instaurou-se nas pessoas, principalmente por conta da incerteza que ainda as cercam. Sob o viés dos investidores, esse choque repentino fez com que diversos deles fizessem o “Flight to Quality” falado anteriormente. Utilizando a figura do dólar, ao analisar a Figura 2, fica evidente esse fato.


Figura 2 - Cotação do dólar entre início de 2016 e início de 2020



Fonte: Br Investing. Acesso em 24 out. 2020


Caro(a) leitor(a), talvez possa estar se perguntando: “Por que o preço do dólar ainda apresenta uma tendência de ascensão?”. De forma extremamente sucinta, baseando-se no princípio da oferta e procura, ou seja, quanto maior for a procura por um produto - em relação a oferta dada -, maior tende a ser seu preço e vice-versa, mesmo com o dólar chegando a patamares altos, ainda há investidores que os compram, devido à incerteza do amanhã, continuando, assim, para esse sentido de ascendência. Contudo, a resposta para tal pergunta não é tão elementar assim, englobando diversos acontecimentos e atores no cenário global. Mencionarei alguns desses motivos:


I) Desaceleração chinesa


Fazendo um panorama do cenário brasileiro, os impactos da pandemia somados à desaceleração econômica da China, grande compradora de commodities brasileiras, fizeram com que houvesse - por falta de demanda - uma queda abrupta das cotações desses derivativos. Consequentemente, visto que o Brasil possui grande parte de sua economia voltada ao setor primário, ou seja, à exportação desses ativos, o país foi diretamente afetado por conta dessa redução do consumo global, seja o chinês ou não.


II) Baixa taxa de juros


Adicionalmente, o período de baixas taxas de juros que estamos vivendo também reflete diretamente nesse cenário. Ao analisar a Figura 3, essa discrepância pode ser notada com facilidade.


Figura 3 - Histórico da Taxa SELIC entre 20/01/2016 e 16/09/2020.



Fonte: Br Investing. Acesso em 24 out. 2020.


Hoje, a SELIC chegando a patamares históricos de apenas 2%, contribuiu de forma significativa para a saída do capital estrangeiro do país, devido à baixa taxa de juros, o retorno em investimentos seguros em renda fixa tornou-se pouco atraente aos investidores internacionais, fazendo com que eles retirassem seu capital dolarizado no país. De forma análoga, como há uma baixa disponibilidade dessa moeda em nossa economia, a tendência é que seu valor suba frente ao real.


Por fim, vale salientar que essa análise macroeconômica foi apenas um resumo. Sei que falta argumentar sobre o aumento da dívida externa, a questão da guerra comercial China X EUA. Contudo, se aprofundássemos mais no assunto, poderíamos nos desvirtuar do tema principal da leitura.


Conclusões


Após colocar na balança os pontos sobre investimentos no exterior apresentados, podemos tirar algumas conclusões, sendo estas:


I) Segurança


Vimos que, sim, no mercado exterior, uma das premissas mais almejadas é a obtenção de segurança na carteira. Entretanto, eu não vejo essa necessidade de se investir no exterior apenas com esse intuito, pelo menos não o pequeno investidor. Mesmo o Ibovespa não possuindo a mesma quantidade de ativos disponíveis em relação à bolsa americana, é extremamente possível criar uma carteira resistente às flutuações de mercado e momentos de crise com um leque de mais de 300 empresas presentes em nossa bolsa.


II) Imposto de renda


Analisando seus pontos negativos, a principal problemática engloba a questão das dificuldades de declaração, juntamente à questão da conversão cambial e informações em um outro idioma. Ademais, em relação ao limite de isenção total do IR nos EUA, é mais útil para indivíduos que já ultrapassam o limite de isenção dos R$20.000,00 mensais aqui no Brasil. Caso a pessoa nem consiga bater esse valor mensal, o aumento do limite de isenção não fará diferença.


III) Oportunidades


Em relação às oportunidades, vimos que, sim, elas são presentes no mercado externo. Todavia, essas oportunidades são melhores aproveitadas pelos investidores que possuem um capital elevado em sua carteira, visto a atual alta do dólar e os trâmites tributários. Ademais, sob a ótica da variação cambial, recapitulando o gráfico da cotação do dólar (Figura 2), caso o indivíduo tenha adquirido ativos dolarizados em alguns anos anteriores aos da pandemia, ele sai beneficiado na transação da conversão cambial. Em contrapartida, o mesmo não pode ser dito com plena certeza caso a pessoa queira obter, no momento, ativos dolarizados, pois não se sabe até quando e quanto o dólar irá subir e, ao tentar supor isso, entraríamos na questão da especulação, a qual não recomendo.


Para finalizar, vimos que investir no exterior pode ser algo emocionante, porém, é uma experiência cara. Para aqueles que almejam aventurar-se em águas novas, mas não possuem um alto capital em mãos, por hora, examine alguns ativos que tangem o assunto, seja por meio dos Brazilian Depositary Receipts (BDRs), seja por meio dos ETFs estrangeiros acessíveis daqui que repliquem algum índice estrangeiro, como o SPXI11, índice que replica o S&P500.


Dívidas? Dúvidas? Em caso de dívidas, recomendo levá-las ao nosso tesoureiro! Em caso de dúvidas, por favor, postem no campo de comentários que se encontra abaixo, que irei responder o mais rápido possível!


No mais, até breve e bons investimentos!


Artigo por: Guilherme Augusto


Revisado por: Aaron Horowitz e Rodrigo Monroe


REFERÊNCIAS


REMESSA ONLINE. O que é o Spread cambial e como ele é cobrado? 2018. Remessa Online. Disponível em: https://www.remessaonline.com.br/blog/o-que-e-o-spread/. Acesso em: 26 out. 2020.


GONÇALVES, R., KAFRUNI, S., FERNANDES, A. Desaceleração da economia chinesa atingirá o crescimento do PIB no Brasil. 2020. Correio Braziliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2020/02/01/internas_economia,824816/desaceleracao-da-economia-chinesa-atingira-o-crescimento-do-pib-no-bra.shtml. Acesso em: 26 out. 2020.





 
 
 

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